É capaz de haver muitas coisas que não sabíamos sobre ter uma casa. Eu sou capaz de pensar algumas. E de desabafar sobre elas. Vamos ver se vocês não concordam comigo.

Temos de sobreviver com os restos do almoço. E temos de pôr a toalha do banho a secar. Os pratos não aparecem lavados empilhados no armário sozinhos (acho isso parvo, mas é verdade, não acontece). As plantas têm que ser regadas (tipo?!). Há uma camada fininha preta em cima dos móveis (acho que é pó) que não desaparece com o vento. Um sem fim de coisas ridículas que alguém se esqueceu de nos informar.

Os canos entopem e somos adultos se formos capazes de os arranjar

O lavatório da cozinha entope se lá deixarmos os restos de comida que achamos nojento tirar com as mãos. Não sei se estavam preparados para isto. Somos adulto quando desentopes um cano. (Está fixe, porque nunca desentupi nenhum.)

Os cabelos entopem a banheira. (E parece uma cena do “The Ring” tirá-los de lá.) Demoremos um pouco aqui, neste assunto. É que na casa dos meus pais estava sempre impecável. Como é que na minha casa isto acontece agora? Acho que é importante perceber se isto acontece em todas as casas (boneco a revirar os olhos). É que dentro das coisas que não sabíamos sobre ter uma casa esta parece-me demasiado. Não nos podiam ter escondido isto.

Há tantos produtos de limpeza de casa como qualidades de arroz

Nunca tinha percebido que havia tantas prateleiras de arroz. Cada vez que é preciso comprar fico duas horas nesta secção. É o carolino, é o basmati, é o vaporizado, é o de risotto, é o melhor para o arroz doce, é o integral. E depois há o longo, o curto, o branco, o amarelado, o especial para sushi, o pronto a comer. E tudo isto vezes cada marca e mais a marca branca. E eu só queria comer arroz com ovos mexidos.

Na mesma medida temos uma parafernália de produtos de limpeza.
Sim, temos de gastar dinheiro em material de limpeza. A esfregona tem que ser substituída de quando em vez, Baldes, panos, vassouras. E detergentes? É pior do que shampoo de rapariga. Há para o forno, para o fogão, para a bancada, para os vidros, para o chão de azulejo e para o chão de madeira… Com lixivia, sem lixivia, com cheiro a limão, a pinhal de Leira e com cheiro a unicórnio do vale encantado, eu sei lá menina.

Das coisas que não sabíamos sobre ter uma casa há umas que bem nos podiam ter contado. Tipo que íamos ficar iguais às nossas mães, por exemplo.

A roupa precisa de amaciador. Às vezes dou por mim a falar com as minhas amigas sobre o amaciador da roupa com cheiro a morango que estava em promoção. Por amor de deus, pior do que isto só a conversa do “no meu tempo é que era”.

O supermercado é caro e passa a fazer parte do nosso plano de fim-de-semana sendo oficialmente o responsável pelo fim da tua vida social. (Ah, e o papel higiénico acaba mesmo). A despensa fica vazia e não há nada para comer com bastante frequência. De todas as coisas que não sabíamos sobre ter uma casa, por esta é que eu não estava nada a espera.

A questão/ problemática / rotina da sacana da roupa

As cuecas e as meias, assim como TODAS as outras roupas não aparecem por obra do espírito santo na nossa gaveta. E isto, minha gente, eu acho o fim da picada. Não há paciência que aguente a rotina de usar – meter na tulha – meter a lavar – estender – apanhar do estendal – dobrar – passar a ferro – arrumar no armário. E é isto por todos os anos da nossa existência a partir do momento em que a nossa querida mãe deixa de o fazer. Já para não falar de que é bastante provável que comece a chover quando estiveres fora de casa e o teu primeiro pensamento seja para a roupa que deixaste estendida (sim, vai acontecer)

Vamos ser fortes, malta. Vamos ter que encarar a pior parte: Estas coisas que não sabíamos sobre ter uma casa não vão desaparecer da terra. É bem provável que elas continuem a acontecer mesmo depois de eu ter escrito este texto. O bom é que eu já vos contei.