Último dia de trabalho | “Série mudar de emprego” – parte 3
Muitas pessoas me perguntaram como me sentia no último mês de trabalho. Na última semana. E sobretudo como foi o último dia de trabalho. Gente, mas acham que dá para explicar alguma coisa? Pelo menos na altura não dá. Porque só queremos fugir dali. Agora já vos consigo dizer todas as respostas a estas perguntas. E não foi assim tão mau, pelo menos para mim.
Depois de assinar uma carta de despedimento as coisas começam a mudar interiormente, logo ali. E eu teria preferido ir embora logo nesse dia, sabem? Porque foi o dia da realização da decisão que demorou tempos e tempos a tomar. Os meses que se têm que dar à casa, por lei, são mistos de nervoso com alivio. Ao fim ao cabo, eles são os últimos tempos de qualquer coisa. Durante esses meses deu tempo para eu fazer a última vez de tudo.
Eu explico, passei a contar a última vez que fazia qualquer coisa: A última vez que atendi um telefone, a última vez que enviei aquele mail, a última vez que atravessei o corredor.. A grande vantagem é que fui tendo tempo para assimilar tudo isso, mesmo que seja um sentimento agridoce. O último dia de trabalho foi, afinal uma decisão foi minha.
Estive ansiosa e nervosa nesse tempo. Preocupada com quem ficava. E ao mesmo tempo aliviada, serena, feliz, consciente e absolutamente convicta e sobretudo certa da decisão que tinha tomado.
Porque não estava triste no último dia de trabalho?
No último dia de trabalho levantei-me e comi panquecas. Arrumei a cozinha. Fui ao meu escritório. Escrevi um texto. Arranjei-me e sai de casa. Ao contrário das previsões o último dia de trabalho não foi mau. Foi só meio esquisito. Senti-me muito agitada e ansiosa. Mas em momento algum estive triste.
Durante muito tempo inquietou-me a ideia de não estar triste por me ter despedido. Preocupava-me não sentir tristeza, Pensei que me ia bater mais tarde, sei lá. Que ia chorar tempos depois de olhos postos na chuva, qual adolescente. Mas isso não aconteceu nesse dia, e ainda não aconteceu até agora.
Percebi depois que eu tinha feito um enorme trabalho de preparação para este dia. Eu tinha demorado anos a tomar esta decisão por medo. Depois de os superar pensei despedir-me mas mastiguei a ideia durante todo o tempo em que não sabia o que queria fazer ao invés daquilo. Foi muito tempo nisto,
Depois de ter descoberto que queria sair do jornalismo para outra área, o medo desapareceu e a decisão tornou-se sólida. Mas foram mais não quantos meses neste processo. Portanto, eu tinha dado todos os passos necessários, e passado por um processo muito longo no caminho desta decisão. Tinha-me preparado, afinal, durante muito tempo, para este dia. Talvez, por essa razão, eu não estivesse triste. Estava feliz. Tinha a certeza.
No último dia de trabalho não olhei para trás
Fui a última a sair nesse dia. Fiquei até estar sozinha. Despedi-me de toda a gente de quem gosto com um “até amanhã”. Foi importante sentir, naquela fase, o apoio de quem trabalhou comigo e testemunhou a minha vida profissional. Consegui trazer amigos em vez de colegas e isso orgulha-me muito enquanto pessoa.
Sorri porque quero que se lembrem de mim como uma pessoa trabalhadora, dedicada, justa e com sentido de equipa. E como a maluquinha refilona de mau feitio, mas que dança na cadeira e dá gargalhadas bem alto. Mesmo no último dia.
Percorri o corredor sem olhar para trás mas a respirar bem fundo e trazendo na cabeça uma das frases que Dumbledore disse a Harry Potter:
São as nossas escolhas, mais do que as nossas habilidades, que definem quem realmente somos.
Green
Sem dúvida que é necessária bastante coragem para tomar essa decisão e ir para a frente com ela.