releitura

Durante muito tempo fui perentória: a releitura era uma forma de ocupar tempo que podia estar a ser usado para ler coisas novas. Achava portanto que não valia a pena ler coisas que já tinha lido, quando havia tantas outras novas que queria ler. Felizmente, sou do contra. E, muitas vezes, contra as coisas que eu mesma invento. Dei o benefício da dúvida. E achei a releitura fascinante.

Lembro-me perfeitamente da minha linha de pensamento quando pensava em voltar a ler um livro. Era sempre isto: há tantos livros que eu quero ler, para que é que vou gastar tempo a ler que já sei como é? Mas tenho vindo a descobrir que estou redondamente enganada. Bom, isto não quer agora dizer que não vou ler livros novos, não é? Contudo, encontrei na releitura um prazer acrescentado. Saber o final não condiciona em nada a caminhada ao longo da história.

Na verdade, eu contradizia esta lógica da batata cada vez que via uma novela que já tinha dado ou cada vez que dava um filme repetido e eu ficava a ver. Pensava o mesmo no que diz respeito às viagens. Bom, continuo a preferir visitar um sítio novo do que repetir, mas sou capaz de enumerar muitos sítios no mundo onde era capaz de voltar agora mesmo. Mas vá, não vamos sair do tema!

A releitura é importante?

Publiquei no instagram uma foto onde questionava as pessoas sobre a releitura após eu mesma ter compreendido os enormes benefícios que existem. Mas depois decidi fazer este post para me expressar de forma mais extensa. A pessoa tem sempre muito para falar. Ler um livro pela segunda vez acrescenta sempre alguma coisa. À medida que crescemos ganhamos perspectivas diferentes (de nós e do mundo) e portanto a leitura do mesmo livro hoje ou há 10 anos nunca poderá ser interpretada ou entendida da mesma maneira. A mudança é uma forma de evolução. É espectável que todos mudemos algumas coisas e algumas vezes à medida que crescemos. A prova da minha mudança é a capacidade de admitir (publicamente!) que estava completamente errada quanto à releitura. Eu não perco tempo com ela, pelo contrário, eu só tenho a ganhar e a beneficiar com ela.

Li livros enquanto criança e adolescente que creio não ter entendido a verdadeira mensagem, essência ou importância. A releitura poderá dar-me hoje outra visão que antes não tive e fazer-me gostar ainda mais do livro. Curiosamente, não tenho vontade de reler livros que li o ano passado nem os que não gostei. Os livros dos quais não gostei já lá vão, já esqueci (até morder a língua e um dia mudar de opinião outra vez!). Pelo contrário, eu quero reler livros dos quais ainda me lembro da história, dos quais gostei e sobre os quais quero saber mais coisas e ter a capacidade de as interpretar de outra maneira. Por isso faz-me sentido voltar a ler livros de que gostei e que li enquanto era demasiado nova para entender tudo o que devia.

No fundo, acho que um livro não tem uma só uma vida. Da mesma maneira que o podemos devolver, emprestar, vender e imensas pessoas terem opiniões diferentes de nós quando leram exatamente a mesma coisa, também nós mesmos podemos ter, em diferentes alturas! (Este texto está a ficar profundo!)

Releitura de “Mulherzinhas”

Li “Mulherzinhas” acho que nem adolescente era. Há uns três anos descobri “Boas Esposas”, que é a continuação e decidi ler novamente o primeiro para ler este em seguida. Ainda me lembrava dos nomes e das principais características das personagens, mas claramente que agora enquanto adulta, compreendi uma série de coisas sobre o empoderamento feminino que me passou ao lado na altura em que ainda era uma criança.

Releitura de “O diário de Anne Frank”

“O diário de Anne Frank” foi outro exemplo de livro que li demasiado nova. Por um lado acho importante ler mais ou menos com a mesma idade que Anne tinha quando o escreveu, mas decidi reler depois de visitar a casa de Anne Frank, em Amesterdão, e os campos de concentração da Polónia. Além do conhecimento histórico mais aprofundado, tinha também a imagem visual real na minha cabeça.

Releitura de Harry Potter (agora que reli o primeiro, não prometo que consiga parar)

Queria reler a saga toda de Harry Potter já há bastante tempo. Fui sempre deixando para depois. Esta semana peguei-lhe. Levei dois dias (horas de almoço e pós trabalho) a lê-lo. Já tinha visto os filmes centenas de vezes, visitado os estúdios em Londres e a exposição em Lisboa. A chama da magia nunca se tinha apagado, porque raio é que eu nunca reli isto antes?

Peguei em “Harry Potter e a Pedra Filosofal” e vi um livro muito antigo, com páginas amareladas. Foi-me oferecido no natal de 1999. Eu tinha 12 anos quando o li. Adorei ter tido a sorte de acompanhar a chegada de cada livro. E crescer com esta história à medida que as personagens também cresciam. Na altura estava completamente embrenhada na história. Contudo, não prestei atenção a todos os pormenores nem a todos os ensinamentos que hoje resultam em frases inspiracionais. Hoje, vinte anos depois, fui à procura disso.

Achei-o bastante mais infantil do que me lembrava. Oh, mas como assim… se eu era infantil claro que não me lembrava disso porque na altura não achei isso! Até me rio de própria com este discurso. A minha releitura de Harry Potter hoje é crítica e atenta à contrução de personagens, à estrutura da narrativa, à criatividade da escrita, à evolução da história. Continua a deixar-me empolgada, ansiosa e acima de tudo muito feliz. É a melhor história de todos os tempos e nisso, não mudo de ideias!

(Não sei se se nota, mas o entusiasmo é tal que esta secção sobre Harry Potter ficou bem maior do que as outras!)

Livros para voltar a ler

  • O mundo de Sofia” – Um dos meus preferidos, mas que li demasiado cedo. Tinha 15 anos. Achava que sabia tudo o que obviamente era só parvo. Eu adorei filosofia na escola e foi por isso que li o livro na altura. Mas nunca me esqueci dele.
  • Um dia” – Creio que gostando eu de Young Adults, possa voltar a amar a Emma e o Dex que têm a primeira frase mais impactante de todos os livros que já li.
  • Vai aonde te leva o coração” – Tenho frases deste livro escritas no meu bloco de notas, por isso de alguma forma, enquanto adolescente, marcou-me. Quero perceber porquê.
  • O principezinho” – Este não li em criança. Li em adulta, pouco antes dos 30. Acho que seria interessante ler novamente antes de fazer 40. Ou seja, falta imenso (não me digam que isto passa a correr, ok?)

O que acham vocês da releitura? É uma prática que têm? Ou são como a velha Andreia Moita teimosa, que achava que não valia pena? Contem-me que livros já releram e quais pretendem reler.