dez anos no emprego que sempre quis

Depois de dez anos no trabalho que sempre quis ter… despedi-me. Assim falando a coisa até parece um bocado ingrata. Mais. Até parece fácil. Mas não é. Ou melhor, não foi. Nenhuma das duas.

Sonhei ser jornalista desde cedo, depois de ver uma série que dava na SIC, talvez. Devia ter à volta dos 12 anos. Persistente, mantive essa ideia até à hora de me inscrever na universidade. Três anos depois licenciei-me em jornalismo. Eu queria escrever e contar histórias. Tão simples quanto isto. Era a minha profissão de sonho. Descobrir coisas. Andar na rua a falar com pessoas. Fazer perguntas. E escrever isso tudo em forma de história.

Nunca quis aparecer na televisão. Como disse queria escrever.
A linguagem televisiva não era a minha. No entanto, trabalhei em televisão durante dez anos e aprendi essa linguagem. Aproveitei uma oportunidade, aprendi tudo o que podia e comecei a gostar muito daquilo que se fazia dentro da chamada caixa mágica. Acabaram por ser dez anos no trabalho que sempre quis ter.

Então, por que me despedi?

Trabalhei como jornalista em ambiente de televisão durante dez anos. Fiz muitas coisas. Fiz agenda. Organizei debates. Escrevi online. Criei um programa e produzi-o do inicio ao fim. Fiz regie. Tive uma equipa de pessoas que admiro. Diverti-me, cresci e aprendi. Tanto. Fiz tudo de forma profissional. Orgulho-me disso. E depois, mudei. Mudei de ideias, Mudei a nível pessoal. Desmotivei-me. Perdi-me um pouco. E a seguir encontrei novos caminhos. Quis outras coisas.

Durante dez anos no trabalho que sempre quis ter passei por muitas fases…

Durante dez anos no trabalho que sempre quis ter passei por muitas fases. Enquanto passei por elas não percebi a importância. Só hoje. Em primeiro lugar, o nervosismo e as dúvidas iniciais. Aquele frio na barriga por estar a fazer uma coisa nova e não ter bem a certeza se era bem aquilo. Os nervos que exigem concentração e que são o contra-balanço para a excitação e o medo de falhar dos primeiros tempos. Em segundo lugar o orgulho por ter conseguido uma coisa que quis tanto e para a qual trabalhei. E depois vem o entusiasmo. Tinha prazer e gosto por aquilo que fazia. Queria mais e ia todos os dias alegre trabalhar. Estava contente por fazer o que fazia,

A animação foi dando lugar ao hábito. O trabalho que antes fazía com medo e depois com entusiamo foi-se transformando em rotina. Fazer aquele trabalho passa a ser fácil e confortável. Está tudo bem. Contudo, a ausência de elementos novos fez-me começar a trabalhar de forma mais mecânica. Não a considero uma fase má, muita gente anseia por chegar a este nível de estabilidade, até. Mas em mim, com o passar dos anos, teve um efeito desmotivante. Fazer todos os dias a mesma coisa sem nenhuma novidade ou crescimento à vista fez-me baixar a cabeça.

A fase da desmotivação consequentemente levou-me à irritabilidade. Nessa altura, tudo ficou errado dentro da minha cabeça. Ao não saber lidar com a desmotivação deixei-me ficar descontente. E fazer as mesmas coisas dia após dia, sem evoluir, irritava-me. Se eu soubesse ter dado a volta a isto não teria chegado à fase da apatia. Esta foi uma altura em que sabia o que não queria fazer, mas não sabia o que gostava de fazer.

O que acontece entre a desmotivação e a apatia?

Quando começo a ficar desmotivada fico sem vontade de fazer nada. Acontece que eu detesto “não fazer nada”. Decidi então que o melhor era começar a fazer coisas novas e diferentes. Nessa altura, em 2016, comecei a correr para ter um desafio novo (uma coisa que nunca pensei fazer) e criei este blog para escrever e contar as histórias, como sempre quis fazer. Isto manteve-me ocupada e entusiasmada e recuperei um pouco do meu estado de espírito efusivo.

Com o blog conheci pessoas, criei projectos, frequentei workshops e decidi que havia de abrir a cabeça para mais mundo além do jornalismo.
Durante muito tempo achei que só sabia fazer aquilo e isso deixou-me fechada para outras coisas. Entretanto, compreendi que lá porque tinha escolhido este curso, e estava a trabalhar nessa área, isso não queria dizer que essa fosse a minha única opção, para sempre.

Abrir a cabeça a outras realidades é o melhor remédio

Quando abri a cabeça para outras realidades descobri que havia imensas áreas profissionais que eu podia gostar de executar. Sim, mesmo depois de dez anos no trabalho que sempre quis ter. Por conseguinte, fui lendo. Fui investigando, procurando e por causa do gosto que desenvolvi pelo blog e pelas redes sociais inscrevi-me num curso de Marketing Digital. Talvez o caminho que eu procurava passasse, afinal, por mudar de área.

Bom, no próximo post conto-vos como foi a decisão de mudar de área. Até ao dia em que me despedi de facto. Espero que acompanhem esta série e vão partilhando comigo a vossa visão das coisas. Este post é o primeiro da “série mudar de emprego”, porque tenho tantas coisas a dizer que receio ser demasiado exaustiva num post só.